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Terras de Trás-os-Montes

Terras de Trás-os-Montes: uma marca que une tradição e inovação, dando visibilidade e proteção aos produtores locais e aos seus produtos de excelência.

Terras de Trás-os-Montes

Terras de Trás-os-Montes: uma marca que une tradição e inovação, dando visibilidade e proteção aos produtores locais e aos seus produtos de excelência.

Terras de Trás-os-Montes - O território é o principal ativo

Ser agricultor não estava nos sonhos nem nos planos de Alfredo Cordeiro. Com 35 anos e um currículo onde junta atividades e saberes tão díspares quanto ser gaiteiro numa banda folk ou terapeuta de reiki, Alfredo admite que não tinha a agricultura como objetivo de vida. “O problema” é que “não tinha objetivo de vida nenhum”. Foi assim por um acaso que, em 2019, se lhe começou a desenhar no horizonte o percurso que o trouxe até à condição de criador e proprietário de uma marca de compotas que ostenta o selo de qualidade da marca Terras de Trás-os-Montes.   

Alfredo produz as compotas Cristus de forma artesanal, na cozinha da casa onde vive, em Algoso, uma aldeia e freguesia do concelho de Vimioso. E vende-as para o país e para o mundo, ao lado de outras marcas mais ou menos conhecidas e galardoadas, como o “Pão de Gimonde”, que permitiu à brigantina Elisabete Ferreira ter sido considerada Padeira do ano em 2024 pela International Union of Bakers and Confectioners (União Internacional de Panificação e Pastelaria). Mas já lá vamos. Primeiro vamos à marca-chapéu que promove os dois.  

A marca Terras de Trás-os-Montes foi reconhecida e publicada em Diário da República em janeiro de 2021, por iniciativa da Comunidade Intermunicipal com o mesmo nome. O financiamento foi garantido pelo Norte 2020, que desenhou para a região uma Estratégia de Eficiência Coletiva que apostava muito na valorização dos recursos endógenos. Rui Caseiro, presidente da CIM-TTM, diz que a estratégia definida passou primeiro pela capacitação dos recursos e pela criação de um caderno de especificações que fosse sinónimo de qualidade e de autenticidade, e só depois avançou para o contacto com os produtores. Arrancou com pouco mais de 30 produtos, no final de 2024 tinha mais de 200.  

A iniciativa agrega produtos e serviços de um território que abrange nove concelhos: Alfândega da Fé, Bragança, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Vila Flor, Vimioso e Vinhais. “As terras de Trás-os-Montes têm municípios mais fortes, mais pequenos, mais ricos, mais pobres, com mais ou menos gente. Mas têm tradição e qualidade. E a palavra Trás-os-Montes, para nós, é mesmo o maior activo”, sintetiza. 

Integrar a marca TTT significa sempre uma adesão voluntária, mas impõe um conjunto de regras que nem sempre são fáceis de cumprir. Para ostentar a marca, o produto tem de ser produzido no território, ou a matéria prima tem de ser local em mais de 50%. Para integrar a marca Terras de Trás-os-Montes, o produto em causa tem ele próprio de ter uma marca registada, e tem de cumprir um caderno de especificações que obriga a rigorosos critérios de qualidade.  

“Primeiro, tínhamos de ter produtos. Estamos agora em condições de passar para a fase seguinte, que é a de incluir os serviços. Vamos começar a ter restaurantes e alojamentos”, diz Rui Caseiro, que está não apenas conformado com a lentidão do processo, como, na verdade, a defende. “Os passos podem ser lentos, mas serão sempre passos seguros”, afirma. 

Montra de saberes 

O primeiro produto a aderir à marca Terras de Trás-os-Montes foi o “canhono” mirandês. Canhono é o nome dado ao cordeiro de Miranda do Douro e para Andrea Cortinhas, secretária técnica da Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa, o convite que lhes foi endereçado pela CIM-TTM fez de imediato “todo o sentido”. “Temos por hábito trabalhar cada um por si e depois temos os constrangimentos de não ter dimensão ou de não nos conseguimos impor no mercado. A possibilidade de ter uma marca agregadora, onde cabe a diversidade de produtos que nos caracteriza como transmontanos e onde está tudo aquilo que é bom e nós produzimos bem é, sem dúvida, uma mais valia para o cordeiro mirandês e para toda a região”, afirma. 

O cordeiro mirandês é um produto com denominação de origem protegida desde 2012. De acordo com o livro da raça churra galega mirandesa, que tem o seu solar nos três concelhos das Terras de Miranda (Miranda de Douro, Vimioso e Mogadouro), existem cerca de 66 produtores, com cerca de 5700 animais, no total.  

As Terras de Trás-os-Montes são mais conhecidas pela carne do que pelo leite, mas a verdade é que também há queijos no portfólio da marca. E aqueles produtores que tinham uma organização mais estruturada, como a Cooperativa de Produtores de Leite de Cabra Serrana (Leicras) foram, naturalmente, dos primeiros a integrar a marca. “Nós trabalhamos um produto que é de denominação de origem por natureza, logo, automaticamente, todas as condições pedidas para a utilização da marca TTM estavam cumpridas no nosso caderno de especificações”, lembra Fernando Pintor, da direção da Cooperativa.  

A Cooperativa surgiu em 1997, com cerca de uma dúzia de produtores, tendo como objectivo a formação e qualificação de empresários que apostavam sobretudo na produção de carne, ajudando-os a organizar a recolha do leite daqueles animais, e de rentabilizá-lo através da produção de queijos. Hoje em dia a Leicras tem 50 produtores associados e muitos projetos para aumentar a sua presença no mercado.  E fazê-lo com o apoio da marca TTM “pareceu uma enorme mais-valia”.  

Este entendimento tanto é válido para uma cooperativa que representa 50 produtores, como para uma queijaria de pendor mais familiar, como é a que produz as várias referências do Queijo Bornes, em Macedo de Cavaleiros. Andreia Vaz, responsável técnica da queijaria, nota que mostrar o selo de Terras de Trás-os-Montes tem sido uma grande mais-valia no reconhecimento da qualidade do produto junto do consumidor final.  

Andreia é natural da Maia e chegou à queijaria de Bornes para fazer um estágio durante o doutoramento em Engenharia Química e Biológica da Universidade do Minho. Foi há dois anos, mas a verdade é que, depois do estágio, quis ficar. Afinal, a queijaria estava a crescer, e o controlo técnico de qualidade (que é a responsabilidade que assina) aumentava em exigência. “Mudei-me do litoral para o interior. Assumo que não foi sem algum receio, mas hoje em dia digo que foi uma das melhores decisões que podia ter tomado, para mim e para a minha família. Sou muito feliz a viver em Trás-os-Montes”, afirma. 

A TTM produziu um catálogo com todos os produtos, organiza a presença da marca em feiras nacionais e internacionais, financia a participação em eventos que permitam a divulgação do território, tudo com o apoio do Programa de Valorização Económica dos Recursos Endógenos (PROVERE).   

“Uma grande parte do nosso público-alvo ouviu falar do nome Terras de Trás-os-Montes, mas nem sabe bem onde fica. Lá para cima, para trás de umas fragas, têm a vaga ideia de que vive para lá pouca gente, que estão todos atrasados, mas é onde se come bem. Eu gosto que tenham essa ideia, por isso os convidamos a vir cá. E quando cá vêm, confirmam que sim, que aqui se come bem, mas que afinal não somos atrasados coisa nenhuma. Temos até a sorte de viver num território sustentável”, ironiza Rui Caseiro.  

Luís Correia, fundador da Apimonte, outra marca que integra o portfólio Terras de Trás-os-Montes, critica o desdém com que muitos olham para a região pela “desgraça” de ter poucos habitantes e por isso não é escolhido para grandes investimentos. “Eu olho para este território como uma mais-valia enorme. É um território muito natural, com uma riqueza paisagística enormíssima. É um território propício para pequenos negócios de alta qualidade. A apicultura, o turismo, pequenas agroindústrias, por exemplo. Este território tem muito potencial que não está explorado”, defende.  Luís trocou uma carreira sólida na área da distribuição comercial para investir num negócio próprio em pleno Parque Natural de Montesinho. Pegou no conhecimento que herdou da avó – “que não percebia nada de apicultura, mas amava muito as abelhas” – para ir espalhando colmeias num território que admite ser inigualável. São já mais de 900.  

A Apimonte baseia-se em duas atividades. Para além da apicultura, aposta no turismo rural e tem sob gestão quatro casas de alojamento local na pequena aldeia de Vilarinho, em pleno Parque Natural de Montesinho. “O desafio foi tentar ligar as duas atividades, o turismo rural e a apicultura, e casá-las de uma forma natural. A apicultura alavanca o turismo e o turismo alavanca a apicultura. Os nossos hóspedes querem saber como fazemos o mel, quem nos compra o mel, querem conhecer o território onde estamos”, diz Luís Correia.  

A possibilidade de integrar a marca Terra de Trás-os-Montes foi de imediato identificada como uma grande mais-valia. “É uma espécie de guarda-chuva, dá-nos um bocadinho de proteção e dá-nos visibilidade, porque a promoção desta marca consegue chegar de onde nós não conseguiríamos, individualmente, em algumas ações de promoção que vão fazendo por esse país fora. Juntos somos mais fortes”, sintetiza. 

Identidade com valor económico 

A marca Terras de Trás-os-Montes é, pois, um guarda-chuva que dá visibilidade e protege diferentes projetos em diferentes estados de maturidade. Elisabete Ferreira, da padaria de Gimonde, é talvez a que tem maior reconhecimento. O Pão de Gimonde já estava nas prateleiras dos supermercados de todo o país e agora está, também, nas bocas do mundo. E junto ao rótulo do seu pão, faz questão de colocar o selo Terras de Trás-os-Montes porque isso também traz um valor económico. “Associamo-nos a uma marca também para lhe darmos identidade. E associarmos a nossa marca à marca Terras de Trás-os-Montes faz todo o sentido porque nós somos daqui”, explica.  

Nem é só amor pelo território e pela identidade da região, é, também, uma questão de negócio e de gestão, assegura esta padeira que tanto gosta de amassar pão e experimentar receitas como de estudar e empreender. Elisabete é licenciada em Gestão, tem uma pós-graduação na Faculdade de Economia do Porto e outra na Porto Business School.   

“É um caminho que se está a fazer. Nós estamos no interior, mas estamos muito mais perto da Europa do que qualquer um que esteja no litoral. Temos uma posição estratégica. O que queremos é que, com a marca das Terras de Trás-os-Montes, comece a haver saída para a Europa. Mas, para isso, é preciso também haver escala, não pode ser só a Elisabete, ou o Pão de Gimonde, a enviar um camião de mercadoria. Então, acho que é importante pensarmos neste conjunto também, para que haja mais massa crítica, para que possamos ir mais longe”, defende.  

No final, quando saírem camiões para a Europa, podem ser mais de 200 produtos a levar a marca de Trás-os-Montes. O pão da melhor padeira do mundo pode muito bem ajudar a vender o queijo de Bornes, o mel da Apimonte e as compotas do Alfredo Cristos, aquele que quando lhe perguntavam o que era e o que queria ser tinha sempre dificuldade na resposta.  

Agora Alfredo sabe. As compotas apontaram-lhe o caminho para o campo. Fixou-se na aldeia de Algoso, plantou 1500 árvores de fruta, tem uma quinta onde árvores autóctones ajudam a fixar a biodiversidade e a manter o ecossistema vivo para não ter que recorrer a pesticidas e herbicidas. Quem é o Alfredo, hoje? “O Alfredo é o produtor de compotas, o agricultor, o músico, o protetor da natureza, um guardião das frutas antigas. Sou, enfim, um guardião da natureza e Trás-os-Montes é o paraíso onde a natureza nos dá tudo.” 

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Ficha Técnica

Textos: Abel Coentrão e Luísa Pinto

Fotografia e Vídeo: Teresa Pacheco Miranda

Edição: Gabinete de Comunicação da CCDR NORTE

Coordenação: Jorge Sobrado

Identidade Gráfica: Opal Publicidade